segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Marina (de novo e quantas vezes mais for necessário)



            A semana começou bem para os socialistas latino-americanos. A vitória de Rafael Correa e o regresso de Chávez à Venezuela são dois grandes acontecimentos que merecem ser comemorados. Se a vitória de Correa significa o aprofundamento do proceso de cambio equatoriano, o regresso de Chávez é um grande alívio para o povo venezuelano e um passo mais na direção da estabilidade.
            Entretanto, hoje me manterei dentro das fronteiras tupiniquins para falar novamente sobre o que tem causado tanto rebuliço na grande mídia, a formação do partido (sim, partido) de Marina Silva, que, apesar de ter feito, no discurso, a recusa da forma partido como sendo ultrapassada, colocou-se no centro de todas as discussões da rede e com uma falsa modéstia que é um atentado à inteligência média da população quer nos fazer acreditar que “só se fala em candidatura à presidência ano que vem...”, tá bom, acredito.
Quando acertar é triste...
            Nenhum mérito para mim, mas quando escrevi pela primeira vez sobre o partido de Marina coloquei de forma irônica o discurso “nem à esquerda, nem à direita, mas à frente”, o que nada mais é do que uma continuação neoliberal da fórmula “nem com os comunistas, nem com os capitalistas, estou com o povo” que é tão familiar a nós latino-americanos em momentos nos quais o populismo emerge como a salvação, que na prática é a garantia da reprodução das antigas relações de produção com um ou outro ajuste. (http://caferevolucionario.blogspot.com.br/2013/01/um-cenario-inquietante.html)
            Marina, infelizmente – porque tenho admiração por sua atuação como Ministra do Meio Ambiente, abraçou esse discurso, mas não se contentou, foi além. E suas cordas vocais tremularam em uma frase absolutamente demagógica e infeliz que poderia ter saído da boca de qualquer dirigente do PTB, PMDB, PSD, PV, PR e outras legendas fisiológicas disse que não é governo, nem oposição, mas “assume posição”.
            Os desdobramentos confirmaram, para mal, o que eu pensava. Seguindo a lógica de neutralizar a neutralidade de forma neutra, afinal os riscos eleitorais estão aí, Marina chega ao cúmulo de querer submeter a união civil entre pessoas do mesmo sexo a plebiscito. Desde quando direitos humanos e civis são passíveis de serem submetidos a plebiscitos? Direitos devem ser respeitados e ponto.
            Imagine que por um raio num dia de céu azul Marina vença as eleições e convoque esse plebiscito absurdo (e mais adiante direi por que não acredito na vitória dela). Quantas rádios, jornais, espaços na televisão, enfim, quantos meios de comunicação de massa possuem a direita católica, os evangélicos reacionários, os conservadores e quantos espaços possuem os movimentos progressistas e LGBTT para defenderem seus pontos de vista? Pois é Marina, você renuncia à sua trajetória anterior em para corroborar aquilo que Max Weber dizia: “neutro é quem já optou pelo mais forte”.
No hay mal que por bien no venga...


            Os ditados populares espanhóis são sempre muito sábios. Uma das minhas grandes preocupações é que Marina, até mesmo pela credibilidade que tem pela sua militância anterior, ao mesmo tempo em que leva uma parte da direita que precisa mais do que nunca fazer a barba e aparecer com uma cara nova para evitar uma derrota eleitoral ainda maior do que as que vêm sofrendo de 2006 pra cá, leva também muita gente boa consigo. O deputado Domingos Dutra (PT – MA), Eduardo Suplicy (PT – SP), Jefferson Moura (PSOL – RJ), Alessando Molon (PT - RJ), e estava levando Jean Wylys (PSOL - RJ), que – com toda razão do mundo, rompeu o diálogo com esse “movimento” quando Marina disse que iria submeter os direitos dos homossexuais a plebiscito e mas não bancava um plebiscito contra a isenção fiscal das Igrejas.
            Afinal, a História não se repete como farsa?
A “Nova Política” não tem só as velhas formas, mas também o velho conteúdo. Trata-se de recusar a existência da luta de classes, a falsa recusa da forma partido, aproveitando-se do desgaste da política institucional, em nome de recuperar a “dimensão ética” (olha que lindo!) da política. Acontece que Política não é gestão e essa importação da lógica empresarial à esfera política é o que a tem feito refém do grande capital, principalmente com a ofensiva neoliberal.
Está evidente que o que se pretende é despolitizar a política e isso é extremamente perigoso. Marina não fala em mobilização popular, não fala em diálogo com os movimentos sociais, muito menos em ideologia.
E claro, como é uma nova forma de se fazer política, Marina aceitará as gordas e desinteressadas doações de Neca Setúbal, herdeira do Itaú e de Guilherme Leal, afinal, já aceitou doações da “ecológica” AMBEV em 2010, é muita “ética”.
A grande “socialista” Heloísa Helena, Jefferson Moura e outros militantes da “esquerda” desiludidos com o governo Lula, que era neoliberal, reacionário e o escambau sairão de um partido que é uma esperança da esquerda para conviver com o dinheiro sujo da AMBEV, do Itaú, com políticos egressos do DEM (ex-PFL e ex-ARENA),  do PSD,  do PSDB em nome de uma “Nova Política”, é essa a lição de coerência que pretendem mostrar aos militantes do PT? Esperava algo mais digno.
Defender nossos recursos naturais sem pensar em romper com o atual padrão societário não é “sustentável” do ponto de vista da honestidade intelectual, é cascata!
Marina, morena Marina, eu tô de mal, de mal com você...
Memória curta – da minha futurologia...
            Como prometido colocarei aqui por que não acredito na vitória de Marina. Embora ela vá agradar tucanos envergonhados e a classe média órfã de um partido político que responda a seus anseios por ética e “sustentabilidade” sem colocar em risco seu suado dinheirinho tão espoliado pela “injusta” carga tributária brasileira...
            Marina também se tornou uma figura conhecida, então o que é provável é que ela chegue disparando nas primeiras pesquisas eleitorais ano que vem. Entretanto, sua ambição pessoal, sua vaidade está fazendo com que ela se esqueça da experiência de Lula em 1994. Naquela ocasião o PT decidiu começar a campanha em 1993, com a caravana das águas, caravana da cidadania e o que aconteceu? A imagem se desgastou. Lula começou lá em cima e terminou lá embaixo. Penso ser provável que isso se dê com Marina, mas, em matéria de futurologia tudo sempre pode mudar, afinal as grandes transformações históricas, felizmente, escapam do nosso controle.

3 comentários:

Rodrigo Caetano Pinto disse...

rs e essa foto do Lula com um monte de frangos?
Muito muito bom seu texto, não tenho o que tirar nem por. Essa rede j[a nasce furada.

Rodrigo Caetano Pinto disse...

Ahhh tava logado na conta do meu namorado, mas quem comentei fui eu, Carol! kkkkk

Anônimo disse...

Ainda na esperança de um post seu sobre a yoani sánchez, francisco! Haha